segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Somos Todos Humanos

O ex-presidente Lula está com câncer na laringe.

Essa notícia, no entanto, não é nenhuma grande novidade, ainda mais pra quem acompanhou as postagens das redes sociais deste domingo.

Hoje eu cansei de ver pessoas "recomendando" que o ex-presidente se tratasse no SUS. E a recomendação, em si, não teria nada de mais, não fosse a mórbida irônia indicando o sistema de saúde público.

Verdade, o SUS deveria ser eficiente, deveria atender bem a população, e o Lula não deveria ter problema nenhum em se tratar no SUS. O próprio Mário Covas se tratou no Hospital das Clínicas inúmeras vezes.

Mas o que me incomodou (aliás, me incomoda) é essa desumana satisfação das pessoas em se regojizar com a desgraça alheia. E não é uma desgraça pequena: é câncer!

Tenho muitas críticas ao ex-presidente, e certamente não sou o único nesse quesito. Mas daí a estender a crítica  a uma doença que põe em risco a vida de um ser humano? Até que ponto podemos nos dar a liberdade de tanto "senso de humor" (se é que estamos falando em humor)?

Mais uma vez, não estou defendendo o Lula, e nem quero que ele se transforme em um mártir ou nada do tipo. Aliás, pra isso mesmo é que se faz necessário separar a figura política do ser humano. A doença que o ex-presidente enfrenta agora em nada se relaciona com o seu governo.

Alguém se lembra de quando Muamar Kadafi foi capturado? Naquele dia, um amigo, ao chegar no escritório, contou-me a notícia que acabara de ouvir no rádio: Kadafi havia sido capturado com vida. Ao final do dia, ele já estava morto. A Internet está cheia de vídeos da sua captura. O que fizeram com Kadafi nos tornou mais desumanos.

Ainda que ninguém seja obrigado a se sensibilizar, não acho que a doença do Lula seja motivo para essa manifestação de, no mínimo, mau gosto.

Espero não perder minha decência e minha humanidade ao ponto de não prestar qualquer solidariedade a um ser humano que enfrenta uma doença como o câncer, independente das críticas que eu tenha contra essa pessoa.

Melhoras, ex-presidente.
Trate-se onde bem quiser.