sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Besouro

O primeiro longa-metragem do publicitário João Daniel Tikhomiroff, Besouro, está programado para estrear por aqui no próximo dia 30 de outubro, mas ontem eu pude conferir de ante-mão uma das (várias) pré-estréias que o filme vem utilizando para se lançar pelo Brasil. Agradecimentos ao Omelete pela oportunidade!

Já faz algum tempo que eu assisti ao trailer do filme. As cenas de ação me impressionaram, mas confesso que na época fiquei com medo de se tratar de um "O Tigre e o Dragão" com uma pseudo-capoeira. No entanto, eu tive uma boa surpresa ao assistir ao filme.




O filme começa com uma seqüência interminavelmente lenta de cartelas redundantemente narradas que nos coloca no tempo e espaço do filme: o Recôncavo Baiano na década de 20.

Antes do filme começar de fato, somos rapidamente apresentados aos personagens, ainda em sua infância, para então "decolarmos vôo" (literalmente) em direção à história.

A adaptação do livro "Feijoada no Paraíso" (Marcos Carvalho) nos conta a história do capoeirista Besouro (Aílton Carmo), que se culpa pela morte de seu Mestre Alípio (Macalé), e a sua transformação na lenda que carrega a missão de cumprir o trabalho iniciado por seu mestre, a libertação de seu povo, com a ajuda das forças místicas do candomblé.

Não se trata do melhor filme de ação que eu já assisti, mas ainda assim é um filme acima da média, ainda mais por se tratar de um filme nacional, que não possui muita (aliás, nenhuma) tradição nesse gênero.

O filme faz muito bom uso de alternância de narrações, utilizando por várias vezes a câmera em primeira pessoa, assim como o faz ao empregar a não-linearidade para contar a história, que contribui para o efeito dramático no final do filme (ah, sim, isso antes das cartelas narradas aparecerem novamente).

Vale destacar, também, a excelente fotografia do filme. Com ótimas composições, ajudou a destacar as cenas mais instrospectivas do protagonista, que combinadas com a ausência de falas, faz da fotografia do filme um brilho à parte.

A trilha sonora também é muito boa, fugindo do que seria esperado para esse tipo de filme: percussão e berimbaus. Causa até uma rápida surpresa ouvir quando Nação Zumbi toca pela primeira vez, mas a combinação é harmoniosa. Não tanto quanto a sua edição, que deixou a desejar com cortes excessivamente bruscos.

As cenas de ação, no entanto, são o grande ponto forte do filme, dignas de qualquer super produção estrangeira, e inéditas na história do cinema nacional. Mais importante ainda, mantiveram-se fiéis à arte da capoeira todo o tempo. O chinês Ku Huen Chiu (Kill Bill e O Tigre e O Dragão) foi o responsável pela coordenação das cenas de ação, o que pode explicar um pouco esse sucesso.

Como na maioria dos filmes de ação, o roteiro não se aprofunda em todas as tramas que abre. Há um óbvio relacionamento amoroso que poderia ter sido suprimido ou desenvolvido, mas que manteve-se "morno" demais. A supressão dessa trama amorosa, no entanto, resultaria no corte de uma das melhores cenas do filme, onde um jogo de capoeira se cruza com um jogo de sedução.

O filme deu novo destaque (ainda que sem muito aprofundamento) à capoeira e ao candomblé, o que não se tinha visto no cinema até então. E apesar do filme manter esses temas apenas na esfera estética, trabalhou-os muito bem. Desenvolver demais os temas do candomblé e da capoeira poderia fugir da "brasileiridade" do filme pra se tornar mero "folclorismo".

De zero a dez, nota 6 para o filme.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios

O último filme dirigido por Quentin Tarantino, Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds - EUA, 2009), estreou por aqui na última sexta-feira. No entanto, acabei conferindo o filme somente ontem, em pleno feriado de 12 de outubro (aliás, ótimo presente de dia das crianças que eu me dei).
O filme era aguardado para o dia 23 de outubro, mas em razão do Festival do Rio, teve sua estréia antecipada para o dia 9.




Ok, antes de mais nada, é melhor eu deixar claro que eu sou um grande admirador do trabalho do Tarantino, e depois de assistir Bastardos Inglórios, eu claramente percebi que sou cada vez mais fã de Tarantino. Então, por mais que eu tente ser neutro, a crítica abaixo não vai ser totalmente imparcial.

No filme, acompanhamos o tenente americano Aldo Rayne (interpretado por Brad Pitt) e seu grupo de soldados conhecido como Os Bastardos, em sua luta pela Europa contra os nazistas.

E o filme é excelente. Para quem conhece o trabalho de Quentin Tarantino e entende sua narrativa e seu estilo, que invariavelmente implica falar numa rapsódia de estilos, homenagens ao cinema e à cultura pop, e diálogos marcantes, tudo sempre devidamente acompanhado de sua ultra-violência (praticamente uma assinatura Tarantinesca), o filme é ainda melhor.

Bastardos Inglórios traz um bom roteiro, como geralmente são os roteiros assinados por Tarantino. E apesar de toda a mistura de estilos cinematográficos (que acaba criando o estilo único de Tarantino), não se trata de mais um Kill Bill, que não foi muito bem recebido no Brasil por causa de seu roteiro (na verdade, eu apontaria que a má recepção de Kill Bill no Brasil se deu por causa da pouca familiaridade do público brasileiro com os estilos que Tarantino incorporou no filme).

O filme é dividido em cinco capítulos, cada qual trazendo, de forma mais ou menos organizada, elementos dos estilos que ele incorpora em sua narrativa. Claro que o estilo de Tarantino se faz presente em todo o filme, mas podemos perceber uma tentativa de organização dos temas homenageados neste filme. Como logo no começo do filme (e eu adoro a forma que os créditos iniciais, bem como a narrativa, são apresentados nos filmes do Tarantino), onde já vemos, na música de abertura, uma clara homenagem ao western spaghetti que o diretor tanto gosta.

O título do filme, aliás, já é em si uma referência ao cinema italiano. Quando foi anunciado, especulou-se se Bastardos Inglórios seria uma refilmagem do filme homônimo de 1978. E não, não é. Outra especulação foi a respeito do título, que passou a se chamar Inglorious Basterds, e não Inglorious Bastards, como seria a grafia correta em inglês. E o motivo da troca das vogais no título logo se faz entender quando ouvimos o sotaque do personagem de Brad Pitt. Aliás, um dos melhores momentos do filme acontece graças à habilidade de Brad Pitt lidar com sotaques.

Outro personagem que merece grande destaque é o oficial nazista Hans Landa (interpretado por Christoph Waltz), essencial para o andamento e desfecho do filme. Um dos personagens mais ricos da trama, combinado com uma ótima atuação de Christoph Waltz.

Após testemunhar a execução de sua família pelas mãos do coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz), Shosanna (uma jovem judia interpretada por Mélanie Laurent) assume nova identidade como dona de um pequeno cinema na França. Nesse meio tempo, o tenente Aldo Rayne (Brad Pitt) espalha o terror entre os nazistas pela Europa.

É então, numa estréia de um filme nazista dentro do cinema da jovem Shosanna que todos os personagens se encontram, e acontece o grande desfecho do filme.

De zero a dez, nota 8 para o filme.

sábado, 10 de outubro de 2009

Sierra Nevada Pale Ale

Apesar de ser uma cerveja razoavelmente famosa pelos Estados Unidos, confesso que não conhecia essa cerveja ainda.
Experimentei a Sierra Nevada Pale Ale não faz muito tempo (eu até havia feito algumas notas sobre essa cerveja, e só não havia escrito nada a respeito dela ainda por... hmm... desleixo?), na minha última visita aos Estados Unidos, num pub do lado do hotel que fiquei em Nova Iorque.
Escolhi por exclusão, procurava alguma cerveja que batesse com o meu gosto pelas ales inglesas, mas queria também experimentar alguma cerveja nova, e apesar de ser uma cerveja americana (Californiana, para ser mais exato), foi a que eu acabei pedindo. Tomei em chopp, não em garrafa (aliás, breve adendo: o pint americano é bem menor que o pint britânico, então não espere aquele tomar aquele monte de cerveja nos Estados Unidos se você estiver acostumado com o segundo tipo de pint).
E confesso que não me arrependi. Não bateu exatamente com o meu gosto (na verdade, eu procurava por uma cerveja bem diferente da Sierra Nevada), mas foi uma surpresa bastante agradável, e é uma cerveja que eu com certeza voltaria a tomar se a encontrasse novamente.
Possui o corpo bastante feminino, levemente adocicada, com notas de amargor bem leves no final do gole. Apesar do teor alcólico ser um pouco superior ao de uma light lager comum (o teor alcólico da Sierra Nevada é de 5,6%), ainda assim é uma cerveja leve e suave.
Não é uma cerveja de aroma forte, quase não possui bouquet, mas um olfato mais atento é capaz de perceber um aroma levemente floral, quase imperceptível. De toda sorte, tem o aroma muito fraco, de forma que não possui bouquet digno de qualquer avaliação.
É uma cerveja bem filtrada também (o que não é necessariamente uma característica positiva), o que talvez faça com que ela se torne tão leve. Essa característica, somada ao fato de ser uma cerveja com gaseificação bastante elevada, faz com que ela lembre levemente uma cerveja lager, apesar de ser uma pale ale.
A coloração é levemente avermelhada, mas de tom bem fraco, provavelmente em razão da forte filtragem.
Em razão da gaseificação elevada, por ser uma cerveja bem filtrada, pela coloração e ausência de aroma, suspeito que não seja uma cerveja 100% malte, mas admito que não é uma cerveja em que se perceba a presença de agentes de fermentação em seu paladar.
Aliás, o paladar da cerveja é muito bom. A Sierra Nevada não possui apenas agentes de fermentação, mas é bastante rica em agentes de sabor também. É uma cerveja que agrada o paladar sem chamar atenção. Cítrica, com acidez elevada, mas não além do limite ideal, levemente adocicada, com notas apimentadas e um aroma bem suave que quase chega em notas florais. Não consegui identificar o que a torna cítrica, já que não é adocicada o suficiente para ser laranja ou bergamota (definitivamente, não é laranja ou bergamota).
Não posso dizer ao certo, mas acredito ter notas de canela, pinho, e limão. Em conversas de bar, alguns moradores locais me disseram que não é limão, mas grapefruit. Eu, no entanto, nunca tomei cerveja com grapefruit (essa, aliás, é uma fruta que não gosto muito), e os locais com quem eu conversei eram de Nova Iorque, e não da Califórnia, de forma que eu ainda acredito ser limão, e não grapefruit.
É uma cerveja bem distinta, de destaque.

De zero a dez, nota 6,5 para a cerveja.